4 de dezembro de 2012

Tempo

Estou me desconhecendo.
Fico com a eterna sensação de perder pedaços de mim, me vejo andando na rua e como rastro, partes de meu corpo e fragmentos de minha mente, num processo de desconstrução.
Quem dera eu positiva.
Me tornei meu próprio medo e só dele me alimento. Medo de doença, medo de morte, medo de amar - medo de ser amado. Ser alegre e positiva não é mais algo assim..."piece of cake", requer muito e muita energia, energia que não tenho mais a disposição.
A gente vai descobrindo que as baterias não duram pra sempre, que elas se viciam e eventualmente, deve-se ficar na tomada o tempo inteiro, isso não é só com computadores, celulares e outros, acontece com nós mesmos, começamos a nos carregar em fontes erradas, em tomadas trocadas, em tempos equívocos.
Me sinto como meu computador, com a bateria quente e sobrecarregada o tempo inteiro, mesmo que descanse dois-três dias, sempre quente. Sempre exausta.
Exausta de mim mesma, exausta por saber que me encontro incapaz de mudar aquilo que quero, incapaz de me alterar, de me recriar e produzir. Estou exausta da dor, do desolamento, dos sonos interrompidos numa madrugada de tormentos, estou exausta de minhas relações pessoais-individuais-globais.

Me sinto como uma quebra de linha.

Eu sou o desassossego.

Tento me procurar dia e noite e se não consigo, me procuro em meus sonhos, passando por trilhas e viagens em caravelas, tento achar de novo aqueles pedaços que me faziam ser mais eu e mais completa, pedaços que me impediam de me danificar. Sinto-me militando contra mim mesma, jogando pedras e pichando meus vazios interiores com frases de rebeldia e revolta. Estou acabando comigo. Tento me encontrar em cada segundo dos olhos fechados, tento redesenhar um mapa itinerante. Um mapa que me leve o mais perto possível de Lia. Lia criança. Lia cheia de energia.

Quero de volta cada segundo que me abandonei.

Quero de volta cada gota de suor, cada lágrima de amor, cada riso de saudade. Quero de volta minha saúde, meus medos infantis.
Quero de volta aquilo que posso querer.

Pois sim, não sei mais o que tenho.

4 de setembro de 2012

dots

Encaramos novamente aquele momento em que todas as suas certezas parecem mais incertas do que nunca.
Não saber o que quer ou o que não quer.
Não ter nenhuma pista de pra onde ir ou onde ficar.
Sempre aconselhamos aos outros a "confiarem no seu taco", "pense positivo", "vai dar tudo certo" e outras do gênero, mas e aí? Vai mesmo? E se o nosso taco não for o suficiente e se faltar culhões ou até mesmo uma ajudinha? Se se tudo estiver dando errado ou nada estiver acontecendo? Me diga, por favor, o que fazer então?
Antigamente achava que a resposta para todos os problemas era encher o coração de amor e seguir em frente, mas atualmente já não parece mais estar surtindo tanto efeito. Sim, o amor é lindo e sim, ele nos dá uma força a mais, mas ele não resolve problemas, de mais a mais só os aumenta, inclusive o amor não paga minhas contas, nem tem que acordar no mesmo horário para se arrastar ao trabalho de todo dia.
O amor é lindo, mas me falta. Eu e ele já não nos entendemos como antes.
E se a solidão me pegar de rasteira? O amor não cria barreiras pra se estar sozinho, ele não nos protege das aflições da vida.
É capaz de me infartar.
Mas ainda assim, mesmo não sendo nada do que poderia, ele ainda fica lá longe, feito lampião em estrada, sinalizando que por algum caminho estamos andando e que se continuarmos poderemos enxergar melhor os nossos entornos - até chegar lá.
Antes fazia do amor inspiração para os textos mais loucos, para os cantos mais surdos, para os desenhos mais intoxicantes. Hoje, o que acho no amor é um alento, uma canção para me por para dormir. Um intervalo nas preocupações.
Quantas preocupações.
E não é por falta de sofrimento. Não é por falta de tristeza ou desconforto.
Não. É por excesso de tudo.
O excesso de tudo me impede de criar e ir longe. O excesso de mim mesma me dificulta o levantar no amanhã.
Mesmo quando perdi todos os refugios, ainda encontrava uma saída: o amor e a comida.
Mas até isso me largou, as facas não conversam comigo, até mesmo pelo contrário, me xingam, me afastam, me repugnam, me empurram para bem longe delas. Estou guardada no armário. Não há calor na beira do fogão.
E nessa tristeza me afogo, longe do prazer, longe do sentir, longe do amor.
Me mudando e me transformando a cada minuto, dia, estação, como borboleta bipolar.
Buscando uma imagem qualquer para um ser qualquer.
E a eterna insatisfação.

Insatisfeita, sento à varanda a fumar meu cigarro, esperando que um vento gelado faça minha mente acordar,  esperando que todas os contornos ruins se congelem e deem margem para todas as coisas esquecidas.
Buscar tranquilidade nas plantas geladas e nas cores pastéis. Mas os olhos não enxergam nem fotografia.
Se cansam, capengam, ardem, outros que estão se aposentando de mim, fazendo suas malas e me mandando à merda.
Parece que ainda não aprendi a fazer um bom trabalho ao cuidar de mim.
Me distraio com o arredor, me esqueço, me apago no entorno apagado da noite paulistana.
Me apago na existência do próximo.

Por isso o amor não cria nada.
Me afogo no outrem.
Mergulho sem boia ou segurança e me esqueço de me criar.

16 de maio de 2012

Esquina da Vida

Saber assim que as coisas não funcionam como relógio, na eterna constância do tic-tac. Que pronunciar um nome ou lembrar de um rosto pode reviver esquecimentos e causar pequenas insônias.
Ao sair, ando pelas ruas molhadas de chuva, suor e cansaço, cada paço leva a um novo olhar de um futuro imaginado, de um presente improvisado, de um passado esquecido e que me leva a escrever roteiros intermináveis de minhas intermitências, de falas que agradam - é incrível nossa capacidade de remontar o que nos convém.
Sento agora na esquina de todos os momentos e assisto o vai e vem de bolas coloridas nas querida mesa verde, todos apostando suas noites e transformando cada aposta num motivo de riso e grito. A expressão literal do cotidiano das esquinas. A emoção contida num movimento certo.
Mais certeza do que meus olhos e coração.
Fica só a vontade de pertencer a uma realidade como essa, de pertencera uma rota de fuga tão pura e suja ao mesmo tempo. Pensei em fugir já, achei somente a profundeza de pensamento em cima de um palco, porém deveria ter buscado algo como isso.
Estamos todos aqui fugindo.
Deveria fugir como eles, em tacos quebrados e moedas perdidas, na paisagem fixa e eterna de uma reunião de vícios, cada jogada se joga uma angustia, um sonho mal realizado.
E aqui, por um segundo, pertenço a essa cena e divido o mesmo motivo. Retrato a fuga como uma forma de despertencer e fugir....
Tento esquece e apensa abstrair o contorno, mesmo co todos os olhos em cima de mim.
Todo nós somos personagens na mesma história, somos até os mesmos personagens. E estamos todos perdidos, porém juntos.
E andar e para no espaço, e esse espaço me permite ser outra de mim mesma, sem lembrar daquilo que problematiza todo o resto.
O vício pelo jogo e pela aposta.
O jogo sem regras da vida, da mesa das indiferenças.

Segunda, 14 de Maio de 2012
Lia de Godoy Ferraz

7 de maio de 2012

Reminescências

Não sei bem como dizer,
Fico sentada no conforto da cadeira, esperando que respostas sejam escritas ao meu redor.
Não sou mais aquela que era antes, aprendi a escolher palavras, me tornei comedida frente a minha própria expressão -  vivo numa eterna ansiedade.
Existe um momento de todo dia, toda vida, em que a gente perde todas as direções, todos os caminhos já percorridos, todos os mapas esgarçados - assim, como tecido velho - e nessa hora não sei para onde vou, ou se vou para lugar nenhum. A eterna missão de existir, de se comportar, de agir de acordo.
De acordo com o quê, pergunto eu.
E nesse momento, de impasse e dúvida, apelo para tudo aquilo que vivi e criei, tento buscar o rabo de um passado tão passado, me prender em realizações já documentadas. Tento me recriar, só utilizando-me de cacos e velharias, cômodos do século XIX, pedaços de lembranças do que foi e não vai mais ser.
Tentei lembrar de mim mesma através das cores, do som, dos sabores e por fim das letras, nada parece conseguir desempenhar o papel.

Estou no limite, na tênue linha do des-pertencimento.

Assim, opto por ficar sentada na cadeira. Apoiada em minhas desilusões e nos meus começos-sem-términos, confortada em minhas meias-idéias, meias-vontades, meio-sentido.
Não sou mais expressão de mim mesma, sou expressão daquela que não fui.
Não me encontro em lugar algum, percorro linhas e linhas em busca de alguma coisa que me leve até mim, mas não acho, não me reconheço em nenhum canto e nenhum palavra. Tudo o que fiz parece ter sido feito por outra pessoa e começo a duvidar de minha autenticidade.

Não reconheço mais meus entornos,
Já não tem mais a sala, o quarto, a cozinha e o gato.
Já não tem a mesa de centro, os sinos tocando, já não tem som de vento e uivos perdidos na noite.
Não tem mais santa, bagunça, monólogos infinitos numa noite em que só se é um grão de areia.
Não tem mais sono, risos esquecidos, tempestades alucinadas, portas destrancadas e romances de sofá

Tudo aquilo que era eu, não existe mais. Agora que me dou conta, tento recriar com urgência e pressa toda uma nova concepção de mim mesma, da pessoa-cúbiculo3x3. Tento fazer minha vida caber em um quadrado e acabo nao mais cabendo em mim, falta espaço.

Depois não entendem por que preferi ficar sentada. Ocupa menos espaço e a estabilidade não me permite me transbordar.Não me perco mais pelos caminhos, não tropeço mais. Fico a relembrar quem eu fui e quem eu poderia ter sido, e espero as respostas, espero como quem espera noticias na guerra. Aflita.