Não sei bem como dizer,
Fico sentada no conforto da cadeira, esperando que respostas sejam escritas ao meu redor.
Não sou mais aquela que era antes, aprendi a escolher palavras, me tornei comedida frente a minha própria expressão - vivo numa eterna ansiedade.
Existe um momento de todo dia, toda vida, em que a gente perde todas as direções, todos os caminhos já percorridos, todos os mapas esgarçados - assim, como tecido velho - e nessa hora não sei para onde vou, ou se vou para lugar nenhum. A eterna missão de existir, de se comportar, de agir de acordo.
De acordo com o quê, pergunto eu.
E nesse momento, de impasse e dúvida, apelo para tudo aquilo que vivi e criei, tento buscar o rabo de um passado tão passado, me prender em realizações já documentadas. Tento me recriar, só utilizando-me de cacos e velharias, cômodos do século XIX, pedaços de lembranças do que foi e não vai mais ser.
Tentei lembrar de mim mesma através das cores, do som, dos sabores e por fim das letras, nada parece conseguir desempenhar o papel.
Estou no limite, na tênue linha do des-pertencimento.
Assim, opto por ficar sentada na cadeira. Apoiada em minhas desilusões e nos meus começos-sem-términos, confortada em minhas meias-idéias, meias-vontades, meio-sentido.
Não sou mais expressão de mim mesma, sou expressão daquela que não fui.
Não me encontro em lugar algum, percorro linhas e linhas em busca de alguma coisa que me leve até mim, mas não acho, não me reconheço em nenhum canto e nenhum palavra. Tudo o que fiz parece ter sido feito por outra pessoa e começo a duvidar de minha autenticidade.
Não reconheço mais meus entornos,
Já não tem mais a sala, o quarto, a cozinha e o gato.
Já não tem a mesa de centro, os sinos tocando, já não tem som de vento e uivos perdidos na noite.
Não tem mais santa, bagunça, monólogos infinitos numa noite em que só se é um grão de areia.
Não tem mais sono, risos esquecidos, tempestades alucinadas, portas destrancadas e romances de sofá
Tudo aquilo que era eu, não existe mais. Agora que me dou conta, tento recriar com urgência e pressa toda uma nova concepção de mim mesma, da pessoa-cúbiculo3x3. Tento fazer minha vida caber em um quadrado e acabo nao mais cabendo em mim, falta espaço.
Depois não entendem por que preferi ficar sentada. Ocupa menos espaço e a estabilidade não me permite me transbordar.Não me perco mais pelos caminhos, não tropeço mais. Fico a relembrar quem eu fui e quem eu poderia ter sido, e espero as respostas, espero como quem espera noticias na guerra. Aflita.
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